Ilustríssimos colegas,
Gostaria de agradecer por comentarem a postagem anterior Fibromialgia x Dor miofascial - diferenciem os sintomas. Venho novamente tecer algumas observações sobre o assunto.
Primeiramente peço que observem o título da postagem anterior – FIBROMIALGIA X DOR MIOFASCIAL: DIFERENCIEM OS SINTOMAS. Em momento algum abordei os tratamentos específicos, mas sim os sintomas e a necessidade de uma equipe multidisciplinar especializada.
Em seguida peço licença e me dirijo especificamente ao autor anônimo do seguinte comentário:
"Senhor alexandre quantos pacientes você já tratou com acupuntura e comparou com o tratamento da fisioterapia com inibição de pontos gatilhos por acupressura,pra dizer o que é melhor ou pior?O que você faz com agulhas,posso fazer com os dedos!!!!"
"Senhor alexandre quantos pacientes você já tratou com acupuntura e comparou com o tratamento da fisioterapia com inibição de pontos gatilhos por acupressura,pra dizer o que é melhor ou pior?O que você faz com agulhas,posso fazer com os dedos!!!!"
Caro colega, saia do anonimato. Aqui não perseguimos as discordâncias, abraçamos as diferenças em prol da salutar discussão de idéias (uma prática, aliás, que promove o renascimento de todo o conhecimento desde a Grécia antiga). Ficaria muito feliz em poder respeitosamente dirigir minhas opiniões dentro da ótica de sua especialidade (que me parece ser a fisioterapia – perdoe-me se estiver errado).
Saciando sua curiosidade sobre a minha expertise em acupuntura e a acupressão, esclareço que há anos venho acumulando treinamento e conhecimento em diversas técnicas para amenizar a dor. Entre estas a Acupressão ou Shiatsu, técnica assimilada há mais de 14 anos em mais de 18 meses de curso reconhecido pela Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro com mais de 200 horas de prática supervisionada em ambulatórios de saúde pública da Cidade do Rio de Janeiro, quando era, ainda, um simples acadêmico de medicina. (Esclareço que na China é o médico que aplica esta técnica nos pacientes).

Nosso trabalho teve o reconhecimento espontâneo da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, diplomando-me o mais jovem médico titulado Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro até vai meu conhecimento.
Voltando ao termo Acupressão, acho o termo pobre em sua definição para nossa discussão visto que autores com Fischer, Travell, Simons, Lewit, Hong, Kostopoulos, Rizoupoulos e Ferreira preferem denominar a estimulação manual dos pontos gatilho como liberação miofascial, compressão isquêmica miofascial ou alongamento miofascial. Permita-me seguir a denominação destes louváveis autores.
Acredito que sua tentativa de acrescer algo a matéria tenha sido direcionada apenas aos casos de Síndrome Miofascial visto que Pontos Gatilho e os Tender Points encontrados na Fibromialgia diferem tanto em aspectos fisiopatológicos como em sua histologia fundamental. E tratar Fibromialgia somente com acupuntura ou qualquer outro método isolado seria, além de ineficaz, ABSURDO!
Assim sendo, recomendo como ponto de partida trabalhos como o do Dr. Kostopulos D., PT PDH, Pontos-Gatilho Miofasciais – Teoria / Diagnóstico / Tratamento, 2007. Talvez se tivesse consultado esta publicação (literatura básica) não estivéssemos nessa situação redundante. Mas vamos em frente...
Travell e Simons em Myofascial Pain and Dysfunction declaram que há diversas formas de tratar pontos-gatilho, incluindo spray e alongamento, compressão isquêmica, injeção de soro fisiológico ou aplicação de um anestésico local e estimulação com agulha.
Diversos estudos de Hong CZ comprovaram que a estimulação com agulhas é mais eficaz que outras técnicas, incluindo o uso de anestésicos locais.
Lewit K, em 1979 demonstrou em seu estudo que era o agulhamento do ponto-gatilho o principal mecanismo da resolução da Síndrome Miofascial. Aqui vale a ressalva que a estimulação por agulhas nem sempre é acupuntura. O que nos leva a pontuar as seguintes diferenças em a Acupuntura e a Estimulação dos Pontos-Gatilho por agulhamento seco...

A acupuntura pode ser aplicada a várias patologias enquanto a estimulação de PG é direcionada exclusivamente para a avaliação e tratamento da Síndrome Miofascial.
Acupuntura alivia a dor por meio de liberação de endorfinas e por mecanismos locais e sistêmicos de inibição da nocicepção. A inativação de um PG ocorre pela eliminação de um foco nociceptivo muscular específico.

Na liberação miofascial é sempre recomendado exercícios de alongamento miofascial. Na Acupuntura não é necessário técnicas complementares no seguimento do paciente. Neste ponto faço uma breve pausa para elegantemente discordar e enfatizar que a Síndrome Miofascial é objeto de trabalho de uma equipe multidisciplinar por ser a Dor uma experiência multidimensional e não somente um evento somático inflamatório.
Enfim, de ovo de pato não nasce galinha...
(acupuntura e agulhamento para liberação miofascial não são a mesma coisa)
Finalmente, Kostopoulos D, ressalta que há várias contra-indicações a liberação miofascial como neoplasias, infecções e feridas cutâneas, arteriosclerose grave, aneurisma, tratamento anticoagulante e osteoporose avançada (tadinha daquela vovozinha ou da paciente lúpica que receber um toque com mais do que 4 kg/cm de pressão...)
Ele finaliza dizendo: “Sugerimos enfaticamente a comunicação com o médico responsável, com outros médicos e com outros profissionais que tratam do paciente antes de se proceder ao tratamento”.
Bom, ele é fisioterapeuta com um Mestrado e dois PHDs, co-fundador da Hands-On Physical Therapy e membro da Associação Americana de Fisioterapia. O Dr. Kostopoulos deve saber o que diz...
A Acupuntura é apenas um dos diversos recursos que um bom médico deve ter a mão para contribuir com o trabalho da equipe multidisciplinar. Ele deve ser ainda capaz de identificar, diagnosticar e tratar quaisquer outras condições que possam ocorrer simultaneamente à patologia principal e este foi o alerta inicial da postagem. O comentário do colega anônimo apenas corrobora nossa preocupação, evidenciando o despreparo de profissionais de todas as classes da saúde (e inclusive médicos por que não?) em discutir seriamente e promover o conhecimento a luz das evidências científicas tão necessárias para fundamentar os tratamentos na área da saúde.
Agradeço novamente a abertura deste espaço de discussão e convido a todos a visitar www.aliviandoador.blogspot.com
Respeitosamente,
Dr Alexandre H. Eller, MD.
Médico do Centro Médico da Coluna Vertebral
Referências Bibliográficas
1. Travell JG, Simons DG, Myofascial Pain and Dysfunction: the Trigger Point Manual. Vol 1 Baltimore, Md: Williams & Wilkins, 1983.
2. Hong CZ, Lidocaine injection versus dry needling to myofascial trigger point. The importance of the local twitch response. Am J Phys Med Rehabil. 1994; 73:256-63.
3. Hong CZ, Kuan TS, Chen JT, Chen SM. Referred pain elicited by palpation and by needling of myofascial trigger points: a comparison. Arch Phys Med Rehabil. 1997;78:957-60.
4. Lewit K. The needle effect in the relief of myofascial pain. Pain. 1979;6:83-90.
5. Lewit K. Manipulative Therapy in Rehabilitation of the Locomotor System. Oxford, England: Butterworth-Heinemann;1999.